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ENTREVISTAS

  • Foto do escritor: Grupo M
    Grupo M
  • 17 de abr. de 2019
  • 5 min de leitura

16 de março - performance e conversa com Aurora Pinho Leite


No passado sábado 17 de março, no Teatro mosca no Cacém, Aurora Pinho Leite apresentou um concerto/performance onde a música foi acompanhada por projeções numa grande tela.

A artista mostrou ainda uma compilação de frames de várias performances que já realizou, antes e depois de começar o processo de alteração do seu corpo.

Aurora começou há dois anos e meio este processo e, uma vez que a intervenção cirúgica custa 9 mil euros está a decorrer uma an-gariação de fundos. Critica o facto do Estado não dar literalmente nenhum apoio a pessoas nesta situação tratando quase como se isto se tratasse uma intervenção cirúrgica por “luxo".




18/28 de março - entrevistas com pessoas residentes no Mercado do Forno do Tijolo


Pelas 14:00 fomos até ao Mercado do Forno do Tijolo, localizado em Arroios, para sabermos o que as pessoas residentes pensam acerca da futura implementação de uma “Casa da Diversidade” para ajudar a comunidade LGBTI (e não só).

Dado que era hora de almoço, havia menos pessoas de passagem na rua do que o habitual. Adicionalmente, maior parte das lojas dentro do Mercado estavam fechadas para a hora de almoço.

A pergunta que nos serviu de base para estas entrevistas foi sempre a mesma: se sabiam algo acerca da inauguração desta “Casa da Diversidade”, seguida pela questão acerca da opinião das pessoas relativamente a esta iniciativa estar a ser feita no bairro onde residem.

De um modo geral, as pessoas não tinha conhecimento acerca deste projeto a decorrer. Mas quando o explicámos achavam muito bem que tivesse a ser feito e que realmente toda a gente merece ser ajudada desde que não “prejudicasse ninguém”.

Quem já sabia da iniciativa concordou totalmente, pois era algo muito im-portante para poder ajudar este “tipo” de pessoas. Numa das entrevistas, um senhor (empregado do café ao lado) afirmou que todos estes projetos são bem vindos, especialmente porque o Mercado é cada vez menos frequentado, ou seja, possivelmente este tipo de iniciativas pode vir a atrair mais pessoas para dentro do Mercado do Forno do Tijolo.

Em casos mais particulares houve quem não percebesse muito bem o significado de LGBT e que por mais que o explicássemos, de forma a entenderem, es-colheram não ter uma opinião acerca do assunto. Estas reações fizeram-nos ques- tionar se as pessoas escolheram não responder

por não concordar muito bem ou achar demasiado “diferente”.

Concluímos, de um modo geral, que este tipo de iniciativas não é bem conhecido pelo público geral mesmo quando residem mesmo ao lado do espaço onde jaa decorreu uma série de eventos relacio-nados com este projeto. Possivelmente, também podemos concluir que a falta de conhecimento acerca desta nova instituição está rela-cionada com a iniciativa ainda ser muito primordial. Mas a verdade é que este projeto está a ser muito pouco divulgado para

o público, sendo que não existem muitos artigos publicados acerca deste as-sunto. Foi necessária muita pesquisa da nossa parte (e o eventual contacto com Câmara Municipal de Lisboa) para saber realmente os planos futuros deste projeto.

Planeámos voltar lá esta semana com o mesmo objetivo (falar com as pessoas fora da comunidade LGBT mas que residam na zona) num horário mais razoável, para entrevistar uma série de pessoas de diversas origens e diferentes faixas etárias para poder captar as suas impressões gerais em relação a este tipo de iniciativas.





29 de março - conversa na FBAUL


___ Como foi a vossa experiência de adaptação à cidade de Lisboa?

O sujeito #2 nasceu em Brasília e depois mudou-se para São Paulo. Nesta segunda cidade descreve a sua experiência com desagrado uma vez que não tinha pessoas conhecidas nem se sentia bem. Descreve a sua mudança para Lisboa em Setem-bro de 2018 como muito positiva. Veio com a mãe e sentiu das pessoas que conheceu uma grande abertura e receptividade.

O sujeito #2 nasceu no Sul do Brasil, posteriormente foi viver para a Irlanda e após conhecer o sujeito #1, mudou-se para Portugal com elx, primeiro Coimbra e atualmente Lisboa. Sentia perigo no Brasil por ser uma pessoa transsexual - comenta que em Lisboa há quem olhe de forma maldosa mas no Brasil na maioria das vezes não falta a essas pessoas a coragem de partir para atos de violência física.

___ Como foi o processo de mudança de género? Como lidaram as pessoas à tua volta: família/amigos etc.?

O sujeito #2 conta que, como a maior parte das pessoas trans sempre soube - ainda que não exactamente o que era - mas soube que nãao se sentia bem no seu corpo.

Conta que nas escola roubava os uniformes masculinos para usar, tirava as cuecas do pai para usar. Assim, sofreu muito de bullying, por ser diferente. Conta que a educação no Brasil funciona muito mal - nunca teve nenhuma aula de educação sexual na escola. Nas escolas públicas testemunhou alunos a consumirem drogas em sala de aula e apontarem armas à cabeça dos professores sem lhes acontecer nada.

Lembra-se de um dia ao andar na rua ter visto duas mulheres tran-sexuais e ter comentado “olha mãe que sinistro” (sendo que para ele “sinistro” era algo de diferente, mas um diferente bom. A maae, muito religiosa respondeu “aquilo é coisa do diabo”. Hoje, o sujeito #2 é amigo dessas mulheres. Foi o que o fez ir pesquisar à internet sobre isso e compreender.

A família, por ser muito religiosa, nunca aceitou. Confessa que atrasou a sua mudança por respeito à mãe, que definia isso como “algo contrário à vontade de Deus, e por isso um pecado”. Por esta razão, cortou contacto com a família.

Ambos comentam vários problemas do brasil. Começando pela educação, a insegurança e o trafico de droga generalizado. A escolas publicas são péssimas, as escolas privadas são em media 2000 reais ao mês. As melhores faculdades são gratuitas mas apenas quem estudou em colégios privados consegue entrar.

Contam como os amigos de ascendência afro-brasileira ou de tez mais escura sentem que tem de estar constantemente impecavelmen-e bem vestidos e tem de transportar com eles o cartão de cidadão a fatura dos telemóveis e equipamentos electrónicos que transportam pois de outra maneira seriam muito provavelmente agredidos por policias.




Explicam como são as favelas como funk brasileiro que se critica pelos temas são de facto os temas do seu dia a dia e por isso os que sabem cantar. Explicam como o tráfico é efetuado sobretudo por crianças que por serem menores não são presas e como os locais mais seguros na favela são os controlados pelos traficantes pois, por não quererem atrair policia, impedem as violações e assaltos nessas zonas.

A discriminação no brasil é muito elevada e por isso muitas pessoas trans face as enormes dificuldades de arranjar emprego acabam por se prostituir.

O trafico é tão generalizado e os salários tão maus que atrai muitos jovens que vem nisso a única forma por vezes de conseguir pagar a faculdade.

Bolsonaro no poder dividiu muitas famílias e a população brasileira entre os apoiantes e os contra. O clima de insegurança aumentou e o próprio sujeito #1 testemunha a sua família dividida. A violência para com pessoas trans aumentou. Reina a falta de informação sobre estes assuntos e o próprio Bolsonaro argumentou que “a educação sexual nas escolas servia só para criar “veados” (palavra pejorativa para pessoas homossexuais)”. Tendo em conta isto, vêm em Portugal um local seguro, onde não têm medo de andar de mãos dadas embora identifiquem um grande conservadorismo na generalidade, sobretudo fora da cidade de Lisboa, o que o sujeito #1 considera dever-se ao facto de Portugal ter uma população envelhecida - difícil de mudar as mentalidades. Ambos não consideram que voltarão a viver no Brasil e sentem insegurança mesmo que fossem de visita, pois saberia que não pode-riam dar as mãos e que tudo seriam muito mais complicado.

Ao explicarmos o projecto que tencionamos realizar consideraram-no muito útil uma vez que de facto muitos dos problemas por eles e por nós identificados são fruto de falta de conhecimentos e divulgação acerca da comunidade LGBTI.

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